O baixo patamar de 2,0% da taxa básica de juros, a Selic, balizador dos investimentos em renda fixa, tem aumentado ainda mais a pressão nos investidores pela busca de retornos superiores
aos oferecidos por essa classe de ativos. Aliado a isso, o excesso de liquidez despejada pelos bancos centrais ao redor do mundo e a expectativa de reabertura das economias, fazem com
que a renda variável seja o destino mais óbvio de todo esse capital. O reflexo desse movimento tem ficado bastante evidente pelas fortes altas recentes nos índices globais de ações, com
aplicadores ignorando possíveis riscos futuros, como um possível atraso nas campanhas de vacinação ao redor do mundo, e apostando em novas altas futuras.
Essa migração para a bolsa, entretanto, não reflete necessariamente um desejo dos investidores de se tornarem verdadeiramente sócios de empresas de capital aberto,
participando de seus planos de crescimento e tendo seu capital remunerado através dos resultados gerados por elas no longo prazo. Reflete somente, na grande maioria dos casos,
uma busca por rendimentos superiores. Nada além disso.
Em janeiro do ano passado, Luis Stuhlberger – CEO e gestor da Verde Asset Management – definiu esse movimento dos “órfãos do CDI” como o grande causador de uma possível bolha na
bolsa. Pouco tempo depois, com a chegada da pandemia do coronavírus, essa profecia tornouse realidade, com os preços dos ativos se ajustando para níveis bem mais condizentes com a
situação real das empresas e da economia. Mas, ao que tudo indica, esse mesmo movimento já parece estar retornando com alguma força.
Quando fica evidente que o principal motivador do investimento em bolsa não é o motivador mais correto, imediatamente se acende uma luz vermelha alertando para uma possível alta
desenfreada nas cotações dos ativos, o que gera um descolamento entre fundamentos e preços.
Em momentos como esse, para assegurar um nível de retorno minimamente adequado e, ao mesmo tempo, sustentável, investidores deveriam optar por ações de empresas que ainda
apresentem alguma margem de segurança nos níveis de preços atuais. O foco não deveria estar direcionado para as tais ações “da moda”, mas sim para outras que ficaram mais
“esquecidas” no processo, não tendo, assim, sido alvo de altas muito exageradas em seus preços. Devem-se, ainda, dar uma atenção maior para aquelas empresas com capacidade
comprovada de geração de caixa (atual e histórica) e menor para outras com potencial de crescimento futuro somente.
2Engenheiro com MBA pelo MIT e sócio-fundador do Ações Garantem o Futuro
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